- Estudo publicado na Science analisa ADN nuclear de 70 gatos de sítios arqueológicos na Europa e na Anatólia, e de 17 gatos selvagens modernos da Europa e norte de África, para mapear origem e dispersão.
- Conclui que a domesticação foi multicêntrica, com papel fundamental do norte de África e uma chegada tardia à Europa a partir do século I a.C., seguida de expansão romana.
- Identifica duas vagas principais de entrada de gatos selvagens africanos na Europa: uma no primeiro milénio a.C. (Sardenha) e outra durante a época romana, que disseminou gatos domésticos por Mediterrâneo, Europa Central e Grã-Bretanha.
- Revela hibridação contínua entre domésticos e selvagens, intensa na Idade Média e ainda possível hoje, com implicações para a conservação do gato-bravo-europeu.
- Questiona a visão de domesticação única a partir do Médio Oriente neolítico, sugerindo que o processo foi complexo, possivelmente multicêntrico no Norte de África e difundido pela rede mediterrânica de fenícios, cartagineses e romanos.
A domesticação do gato não aconteceu de forma única nem apenas no Médio Oriente. Um estudo publicado na Science revela que o processo foi multicêntrico, com papel decisivo do Norte de África na gênese de linhagens que chegaram à Europa na Antiguidade. A chegada ocorreu tardiamente, no século I a.C., associada às redes mediterrânicas promovidas por Fenícios, Cartagineses e Romanos.
A investigação analisa ADN nuclear de 70 gatos de sítios arqueológicos na Europa e na Anatólia, e 17 gatos selvagens modernos da Europa e do Norte de África. Segundo Marta Moreno, arqueozoóloga do CSIC, várias regiões contribuíram para a domesticação, indicativa de múltiplos centros de domesticação.
Uma nova leitura da domesticação
O estudo identifica duas vagas principais de chegada do gato selvagem africano à Europa. A primeira, no primeiro milénio a.C., já deixou vestígios na Sardenha. A segunda, a partir do século I a.C., expandiu-se com a Roma, disseminando gatos domesticados por vias comerciais, militares e marítimas pelo Mediterrâneo e Europa Central.
Os autores argumentam que, ao longo do tempo, houve hibridação contínua entre linhagens domésticas e selvagens. Esse fluxo genético intensificou-se na Idade Média e persiste noutras regiões, com implicações para a conservação do gato-bravo-europeu.