- Debate sobre a deslocalização da estação Gaia (Santo Ovídio) para Vilar do Paraíso, após o consórcio AVAN Norte assinar, em 29 de julho, um contrato de concessão que prevê a estação em Santo Ovídio com ligação a duas linhas de metro.
- O especialista Diogo Magalhães afirmou que a mudança terá muito pouca procura a longo prazo, acessos muito maus e dependerá quase exclusivamente do transporte rodoviário, qualificando a opção de “elefante branco”.
- Criticou a decisão, dizendo que contradiz o Plano Ferroviário Nacional e as promessas feitas no processo, além de degradar a mobilidade.
- Apontou exemplos europeus (Barcelona, Berlim, Lisboa) para defender que as ligações de alta velocidade devem servir áreas metropolitanas de vários pontos, não apenas o centro.
- Alertou que a extensão da linha de Metro do Porto não está garantida no plano AVAN Norte e pode favorecer outras áreas à custa de cidades como Gondomar, Matosinhos ou a Maia.
A deslocalização da estação de Gaia, prevista para ligar Santo Ovídio a Vilar do Paraíso, volta a gerar controvérsia. O debate surge após o consórcio AVAN Norte ter assinado, em julho, um contrato de concessão que mantém a estação em Santo Ovídio, com ligação a duas linhas de metro, mas admite uma alternativa em Vilar do Paraíso. A discussão envolve impactos no fluxo de passageiros e na organização urbana.
Diogo Magalhães, especialista em transportes, afirmou que a transferência resultaria em pouca procura de longo prazo e acessos pouco eficientes, dependentes do transporte rodoviário. O comentário foi feito num debate online promovido pelo movimento Gaia Verde, onde o engenheiro com experiência internacional reiterou que a meta é reduzir o tráfego e não agravá-lo.
Magalhães advertiu ainda que a extensão da linha de Metro do Porto não está garantida no plano AVAN Norte, o que pode afetar o planeamento de outras cidades da região. Segundo o especialista, a deslocalização poderia transformar a infraestrutura numa decisão de baixo uso, com custos significativos a manter.
Deslocalização sob escrutínio
O debate enfatizou a necessidade de uma visão europeia de ligações ferroviárias de alta velocidade que sirva áreas metropolitanas amplas, não apenas o ponto central. Referiu exemplos de cidades que apostam em múltiplas estações para distribuir o tráfego.
O panelista citou Barcelona, Berlim e Lisboa para ilustrar modelos onde várias estações recebem serviços de alta velocidade, aumentando a acessibilidade e reduzindo a pressão sobre o centro. A ideia é evitar a criação de “elefantes brancos” que não justificam a procura.
Magalhães também destacou casos de cidades espanholas que enfrentaram dilemas semelhantes e acabaram com estações afastadas, sem acessibilidade pública adequada, resultando em baixa utilização e itinerários com pouca frequência de comboios.
Riscos para a rede
O especialista apurou que manter uma estação afastada do centro urbano pode provocar um ciclo vicioso: menos passageiros, menos paragens, menor frequência e menos utilizadores. A manter-se o cenário, as autoridades terão de reajustar planos de mobilidade com cautela.
Sobre a extensão do Metro do Porto, o expert criticou a ausência de garantia no desenho do AVAN Norte, sugerindo que qualquer prolongamento pode prejudicar outros municípios vizinhos. A posição é de ceticismo quanto a benefícios sem uma base de procura sólida.