- A REN disse que não é possível garantir que não ocorram novos apagões e que a prioridade do sistema elétrico é a capacidade de recuperação rápida perante riscos técnicos, climáticos ou de cibersegurança.
- O presidente executivo da REN, Rodrigo Costa, explicou que a empresa faz tudo para evitar apagões, mas não há forma de impedir que voltem a acontecer; a preparação deve envolver o Exército, a polícia, serviços críticos e operadores de telecomunicações.
- O apagão de 28 de abril de 2025 teve origem num problema de muito alta tensão no sistema espanhol, propagando-se ao sistema português e provocando um desequilíbrio em cascata após a perda súbita de cerca de 2.200 megawatts de produção solar no sudoeste de Espanha.
- Nesse período, Portugal e Espanha cumpriam os níveis mínimos de inércia exigidos pela Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade (ENTSO-E), mas o controlo de tensão espanhol falhou, contribuindo para o colapso.
- A recuperação iniciou de forma autónoma com duas centrais em modo “blackstart” (Castelo de Bode e Tapada do Outeiro) e a aproximação de energia através de ilhas energéticas; o apoio externo chegou no final da tarde, com a interligação do Douro Internacional, acelerando a reposição para consumos prioritários.
A REN afirmou nesta quarta-feira que não é possível garantir que não ocorram novos apagões e defendeu que a prioridade do sistema elétrico é a capacidade de recuperação rápida face a riscos técnicos, climáticos ou de cibersegurança.
Na audição da Comissão de Ambiente e Energia, integrada no Grupo de Trabalho sobre o apagão de 28 de abril de 2025, o presidente executivo, Rodrigo Costa, disse que o operador das redes nacionais faz tudo para evitar falhas, mas não há garantias de que não voltem a acontecer.
Costa reiterou que o serviço é um dos melhores da Europa, mas está sujeito a acidentes, cibersegurança e desastres naturais, defendendo uma preparação ampla para recuperar o sistema.
O documento apresentado pela REN descreve o estado do sistema ibérico antes das 11h33 de 28 de abril, data do colapso. Em Portugal, a produção renovável representava cerca de 62% do consumo; em Espanha, 92%, com forte peso da solar. O sudoeste espanhol apresentava produção elevada, estimada em cerca de 16.000 MW de solar e eólica.
Contexto do apagão
A REN explicou que Espanha operava com uma derrogação europeia que permite tensões até 435 kV, superior ao padrão em Portugal, onde as redes de ultra‑alta tensão chegam a 420 kV. Portugal e Espanha cumpriam os níveis mínimos de inércia exigidos pela ENTSO-E, mas o controlo da tensão espanhol falhou.
A causa principal identificada aponta para um problema de very high voltage que se iniciou no sistema espanhol e se propagou para o português. O apagão de abril foi descrito como excecional e grave pela ENTSO-E.
Às 11h33 houve a perda súbita de cerca de 2.200 MW de produção solar no sudoeste de Espanha, o que gerou um desequilíbrio em cascata e o colapso total em ambos os sistemas. Nesse momento, os planos de emergência do Sistema Elétrico Nacional ativaram-se e a REN desligou aproximadamente 4.200 MW de consumo, começando pela bombeação hídrica.
Recuperação e cooperação
O sistema português, que na altura importava energia, passou temporariamente a exportar cerca de 2.400 MW para apoiar o país vizinho, esforço que não evitou o colapso. A recuperação começou de forma autónoma com dois polos em modo blackstart, Castelo de Bode e Tapada do Outeiro, bem como a criação de ilhas energéticas, descritas pela REN como um processo cuidadoso face ao risco de nova falha.
O apoio externo começou a chegar ao final da tarde, com a interligação do Douro Internacional, acelerando o restabelecimento e assegurando fornecimento a consumos prioritários, como hospitais e serviços de segurança. A REN afirma manter uma abordagem conservadora na reposição da capacidade das interligações e está a implementar medidas nacionais e europeias para reduzir o risco, ainda que reconheça a complexidade crescente do sistema.
O apagão de 28 de abril foi classificado como excecional e grave pela ENTSO-E, tendo levado ao encerramento de aeroportos, congestões nos transportes e falta de combustíveis. O relatório preliminar, divulgado a 3 de outubro, confirma que a origem está em Espanha, com uma sequência de desligamentos súbitos de produção renovável e a consequente perda de sincronismo com a rede continental.
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